Fábio Porchat falou sobre a influência do politicamente correto no humor ao ser entrevistado no “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite de segunda-feira (18). O apresentador, que também comentou sua ida para Record, o amadurecimento comandando seu talk show e o impasse com a Globo por conta do Porta dos Fundos, acredita que a forma de fazer rir muda de tempos em tempos.
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“No humor, tudo pode ser engraçado. Durante muito tempo piada racista, machista, homofóbica era autorizada, eu cresci ouvindo. A piada era calcada na loira burra, no português, na bichinha… As crianças de hoje nem compreendem mais uma piada racista, não faz parte da realidade delas”, analisa Fábio Porchat.
“Eu morro de medo de envelhecer porque o humor envelhece, não adianta. Acho sacanagem quando entrevistam o Renato Aragão e perguntam de piada homofóbica. Ele não sabe! Não é que velho não pode ser engraçado, o que sinto é que o humor muda e é mais difícil acompanhar, entrar na cabeça de um cara de 60 anos o que acontece na cabeça de quem tem 20”.
Isso já gera impactos na forma de fazer rir. “Por que os novos humoristas vieram como uma avalanche? É porque não podia se falar muita coisa. Quando você vem do stand up, fala tudo. O ‘Zorra Total’ só mudou por causa do Porta dos Fundos”, aponta.
‘Porta’ fechando porta?
O humorista falou também do sucesso do canal Porta dos Fundos na internet. As esquetes são escritas principalmente por ele, Gregório Duvivier e Antonio Tabet, que também atuam. “A gente procura, mas é difícil achar roteirista bom, disponível e que não ganhe uma fortuna. Tem roteirista na Globo que quando a gente convida acha que tem que ter um monte de palavrão, porque na TV não pode. E nosso humor não é isso”.
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Mas fazer parte do projeto fez com que perdesse espaço na Globo, revela. “Depois que saí de lá, não me chamavam por ser do Porta dos Fundos. Um dia o Bruno Mazzeo me ligou pra fazer a ‘Escolinha’, eu era o segundo ator que ele ofereceu personagem. Passou um mês, dois e nada, até que li que o programa ia estrear e liguei pra ele. ‘O pessoal da Globo disse que você é do Porta e não pode fazer’, ele falou”.
Isso motivou sua troca de emissora, estreando em agosto do ano passado na Record. “Quer saber? Já que não posso estar na Globo, não vou estar mesmo, vou pra Record. Fizeram uma proposta ótima, me deram um programa na mão… Esse foi esse pensamento. Agora tenho um programa que é meu, do meu jeito”, comemora.
Internet x TV
Ele não vê uma migração em massa de uma mídia para outra. A TV aberta ainda tem uma importância muito grande, a internet vai levar um tempo para ocupar esse lugar. Quando você tem um programa seu na TV aberta, não importa em que emissora seja, as pessoas te dão importância, parece que você tem voz e é uma pessoa de verdade. Fui pro Recife e as pessoas me falavam só do programa”.
Porchat acredita que as duas mídias podem conviver, como aconteceu com o rádio após a chegada da telinha. “A internet não vai matar a televisão, ela deve ir caindo, caindo, até se estabelecer num patamar com transmissões ao vivo, por exemplo. Quando o Google comprar os direitos da Copa do Mundo, aí será interessante”.
Programa
O apresentador diz que precisou pisar no freio para conciliar todas as suas atividades, já que o “Programa do Porchat” passou a ocupar boa parte do seu tempo. “Pela primeira vez freei meu ímpeto. A minha cabeça foi tomada pelo programa, que é diário, tem pelo menos um convidado por noite, tem brincadeira… eu ainda escrevo o Porta dos Fundos e enceno a peça ‘Meu Passado me Condena'”, enumera.
Ele assume que não é fácil ter sempre alguém ocupando o sofá. “Não pode gente da Globo, da Globosat, do SBT… Quando o convidado não rende, eu ainda me desespero, vai me dando uma tristeza profunda”, assume, dizendo que não deixou a fama subir à cabeça. “Fico super preocupado. A partir do momento que você fica conhecido, deixa de ser observador para ser observado. Ninguém age comigo normal mais, até o pombo me olha diferente”.
O humorista avalia sua performance no talk show. “Vejo uma evolução em mim como apresentador e fico feliz. Eu estava mais duro, travado, seguindo o roteiro. Hoje o assunto vai pra outro lugar e eu acompanho, estou me sentindo cada vez mais à vontade. E nunca imaginei que fosse dizer isso, mas na Record tenho uma liberdade muito grande, falo coisas que não poderia falar na Globo. Assim como em outras emissoras pode falar coisas que na Record não pode”.
Fábio Porchat diz como imagina estar aos 60 anos. “Não sou muito de pensar no futuro, mas quero morar em Portugal e vir aqui fazer um filminho de vez em quando. Quero estar viajando pelo mundo”.
(Imagens: Marcela Navia/Divulgação e Antonio Chahestian/RecordTV)
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